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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

EXPLICANDO O PROJETO

UMA PALHAÇA ENTRE MUNDOS MIÚDOS: circulação de espetáculos de rua e trocas em povoados de até 10 mil habitantes é um projeto que inclui duas encenações:"RE-BOLANDO COM A GRINGA ERRANTE" e "MUNDO MIÚDO - teatro de animação". Os povoados, selecionados durante o percurso, estarão no trajeto Salvador/Bahia – Santa Cruz do Sul/Rio Grande do Sul, onde, através da aproximação pelos espetáculos, propõe-se trocas culturais com os habitantes das respectivas regiões.

As apresentações/trocas são realizadas pela palhaça/bonequeira e professora de teatro Genifer Gerhardt Dimpério em uma viagem-pesquisa de dois a três meses, a contar da saída de Salvador até a chegada em Santa Cruz do Sul. Os povoados serão selecionados nos seguintes estados brasileiros: Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A proposta de Genifer é unir dois pensamentos: levar o teatro e o teatro de animação para cidades com habitantes que se supõe não possuir acesso a esse tipo de atividade artística e, ao trocar conhecimentos com essas pessoas, se confrontar enquanto artista e pesquisadora e divulgar, posteriormente, parte da cultura de cada região.


CUMA?? POR QUÊ??

“O que mata um jardim é esse olhar vazio de quem passa por eles indiferente.” (QUINTANA, 2007)

Há pessoas de todo o tipo. Há as eufóricas, as conformadas, as tristes e sorridentes, pequenas e grandes estaturas que escondem, sempre, grandes estórias. Há as esperançosas e as que vêem as manhãs iguais, amontoados de nuvens que revelam o sol escaldante. E há histórias. Há vida em cada fragmento, em cada amontoado de células, em cada visão, deturpada sempre, de um real imaginado, de um imaginado real. Há fantasia no viver, no conhecer, no habitar. Há de se valorizar cada extensão, migalhas de sentimentos em grandes mundos de vida corroída pelo tempo e pela pequenez aparente dos espaços. E há de se crescer se confrontando com cada uma delas, as histórias e as pessoas, com cada ação, com cada descoberta. Há tanta espetacularidade em ser. Há tanta vida a ser aplaudida, lá, escondida em berço esplêndido. E fantásticas personagens camufladas nas roças, nas cozinhas, nos interiores. Escondidos sonhos que podem ser revelados pela fantasia. Há tanto para se ver, conhecer e mostrar.

Eu, Genifer Gerhardt, nasci em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul: Santa Cruz do Sul. Lá, pouco vi de teatro, algumas poucas apresentações e um curso básico oferecido pela prefeitura. Excelente curso, embora único, pelo que me lembro.

Alguns anos se passaram.

Por destino ou imprevistos, uma mudança: saí do interior e fui morar na capital, Porto Alegre. Um novo mundo se abriu, coberto de belezas em praça pública. Seres fantásticos surgiram diante de meus olhos em apresentações curtas no parque, e um público encantado como eu a sorrir de personagens e contos com bonecos e objetos animados. “Isso é possível?!” – pensei eu com meus olhos arregalados, e em seguida lembro-me de ter observado: “queria que minha amiga lá de Santa Cruz visse isso”. Foi ali que, sem perceber, comecei a esboçar o que viria a ser meu objetivo atual: levar até pessoas distantes dos ditos “centros urbanos” o acesso àquele mundo mágico e encantador do Teatro de Formas Animadas, que eu passara a conhecer.

Muito tempo e mudanças depois, já em Salvador e tendo ingressado na UFBA, deparei-me com mestres prático-teóricos: palhaços que me encantavam com sua possibilidade de aproximação através do ridículo e Eugenio Barba e o Odin Teatret. E da indagação do porquê de se fazer teatro veio a percepção de que o artista não só toca, mas também, para que se amplie, é ou deve ser tocado pelos espectadores. Segundo relatos trazidos no livro Além das Ilhas Flutuantes[1], foi indo até cidades com pouco índice populacional que o Odin mais se confrontou: os artistas do grupo estavam diante de pessoas que nunca havia sentido falta do teatro. Confrontando a si e à sua prática a partir da relação com os demais e suas práticas, encontraram, então, um sentido que ultrapassava o exibicionismo e a repetição de conhecimentos: passaram a reconhecer e pôr em pauta culturas, atividades e sabedorias alheias.

Perceber o que essas ‘pessoas distantes’ veem ali com seus olhos e vozes, e como podem transformar aquelas ações artísticas pelo que mostram, pelo que sabem, ensinam. Mestres sem diploma, sem farda, com ou sem enxada na mão.

Esta é a proposta, conhecê-los, suas histórias, mitos e contos. Expressões daquilo que lhes é mais belo: sua cultura ali, disposta a ser compartilhada. Levar as próprias pessoas das regiões escolhidas a também reconhecer seus pares como agentes do maravilhoso. Porque no primeiro momento há uma “gringa errante” e todo o fascínio que envolve a figura da estrangeira, mas no momento seguinte são eles e elas que mostram seus afazeres e, agora, eles e elas é que são os protagonistas, com a sua cultura, com suas manifestações e rotinas.

Valorizar as diferenças culturais dos locais envolvidos torna-se, então, ponto fundamental desta jornada. Abrir caminho para o imprevisto, o inesgotável. Surpresa diária, minha e deles e delas que, não sabendo o que queremos uns dos outros, nos mostramos, e é aí que trocamos. É aí que, sem saber, estamos enveredando pelo caminho sensível do conhecer, do revelar e, finalmente, do valorizar das belezas escondidas em pequenos / grandes mundos miúdos – sujeitos e lugares.




[1] BARBA, Eugenio. Além das Ilhas Flutuantes. São Paulo – Campinas: Editora Hucitec / Editora da Unicamp, 1991.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

RE-BOLANDO COM A GRINGA ERRANTE


"O espetáculo solo de rua traz a fina palhaça Palitolina interagindo e se atrapalhando no encontro com personagens e bonecos inusitados."

Indicação etária: livre.


Palitolina é assim, magrela. Tem pernas compridas. E finas. Fiiiiiinas! As pernas, motivo de vergonha e timidez na infância e parte da adolescência, hoje são responsáveis por dar nome e graça à personagem.


O estudo da palhaça de Genifer Gerhardt (Palitolina Russo) foi iniciado em experiências de rua e no encontro com o sempre mestre e messiê Alexandre Luis Casali. Foi na rua e em saídas que começou a perceber o estado de palhaça, e foi no curso de iniciação que ganhou o nome e uma consciência do que representava aquele trabalho: notou um pouco com que forças mexia, sobretudo consigo, e quis seguir investigando tais percepções e processos.


“Re-Bolando com a Gringa Errante” é um espetáculo que dialoga com estas experiências, com saberes no ramo do Teatro de Animação e com conhecimentos acadêmicos prático-teóricos. Resultou no trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em Teatro (TCC) de Genifer Gerhardt na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2008.2, sob orientação de outra mestre, a professora doutora Sonia Lucia Rangel. Intitulada “RE-BOLANDO COM A GRINGA ERRANTE: em busca de uma Pedagogia da Troca com palhaça e bonecos”, a pesquisa tratou da criação do espetáculo e de uma experiência realizada no povoado de Bravo, município de Serra Preta, interior da Bahia, onde, através desta peça, Genifer realizou trocas culturais e se aproximou de crianças, adultos e idosos do povoado. Esta aproximação permitiu à mesma conhecer parte da cultura da região, divulgá-la e dialogar esta experiência com sua prática diária, além de atiçar a vontade de estender e prosseguir com a pesquisa por outras regiões do país.


“Re-Bolando..” é apresentada desde então em praças, eventos, escolas e instituições públicas e privadas da cidade de Salvador / BA, e teve temporada profissional (a chapéu) de quatro meses na Praça 2 de Julho - Campo Grande. Diálogos permanentes entre técnica, intuição, muita vontade e curiosidade permeiam essa pesquisa, suas vivências e, principalmente, seu encontro com um público diversificado. Muito mais do que diversão, um trabalho levado a sério pela palhaça/bonequeira.





FICHA TÉCNICA:

RE-BOLANDO COM A GRINGA ERRANTE

Direção, roteiro cênico e atuação: Genifer Gerhardt.

Confecção dos adereços e bonecos de cena: Genifer Gerhardt.

Confecção das malas e cenário: Lico Santana e Genifer Gerhardt.

Trilha sonora: Genifer Gerhardt, a partir de excertos de músicas populares, nacionais e internacionais.

Fotos: Caio Rodrigo Chaves, Viliane Turatti, Marcelo Castilho, Flávio Catão, Expinho.

Filmagem e edição: Expinho.