Páginas

sábado, 31 de outubro de 2009

Poções, MG, 23 de outubro de 2009

Ainda dói a barriga, mas estou ‘em fase de melhora’.
Chegamos ontem aqui na Comunidade, e no ônibus já encontrei professoras bem interessadas no projeto, avisem o dia que levamos as crianças lá da nossa comunidade. Aqui, fui muito bem recebida! Esse é Chico, responsável por tudo por aqui. Sogro de Djalma, foi para ele que expliquei o trabalho, e foi ele quem me falou sobre a comunidade, da produção de leite, gado, e da barragem, feita com contribuição do Governo Federal. Antes não havia barragem e a água era um problema. Havia três calhas para todos, e os proprietários das terras tinham prioridade. No tempo determinado, o restante da população ia buscar água para consumo, e vinha o balde com cobras, sapos, rato até, tinha que pegar, era o que tinha. “Mas a gente batalhou e conseguiu que construíssem essa barragem. Se não fosse ela não teria mais gente morando aqui, não. Era muito difícil!” – contou Chico.

Reconhecida em 2005 como Quilombola, a comunidade ainda aguarda por algumas melhorias prometidas pelo reconhecimento.
Conversamos bastante tempo, enquanto procuravam uma casa para eu dormir por aqui. “Na rua você não fica. Nem que a gente amanheça aqui, todo mundo junto, mas não vamos lhe deixar sozinha, não, moça!” E tempos depois me levaram para casa de Dona Maria, onde estou agora.
Aqui moram D. Maria, Seu Lau, Lucília e Lucas – meninada – e Marquinhos – rapazote. Bem recebida, fui ontem para um quarto com várias camas. E, como da outra vez, vieram já se desculpando pela simplicidade da casa, como se nisso eu reparasse.


Hoje pela manhã caminhei até a barragem, água branda como manhã domingueira. Lá conversei com Maria da Graça, “me chamam aqui de Gracinha”, que cuidava de seu filho Gabriel. Após o casamento veio para cá, e aqui ficou.

Caminhando, vi o olhar um pouco relutante de alguns moradores, e não sei direito como me comportar – se me aproximo ou se aguardo a aproximação. Não querendo ser invasiva, espero. Devo apresentar amanhã ou depois – decisão que tomarei com Chico – e espero que meu trabalho ajude nessa possível proximidade.

BOCA DE FORNO, FORNO
Tardinha, forno queimando. “Vou fazer biscoitos, sempre faço pros meninos. É bom que rende, esses que vendem aí no mercado não duram nada.” Perguntei se podia aprender e, à beira do forno de barro dos fundos da casa, D. Maria foi me informando os ingredientes, com sorriso de menina.

= RECEITA DE D. MARIA =
(rosquinhas – rende aproximadamente 30)

1 kg de Farinha de trigo sem fermento
4 ovos
¾ copo de leite
½ copo de óleo
1 ½ colher de margarina
1 pacote de 30gr de fermento biológico
2 xícaras pequenas de açúcar

Colocar o leite, o óleo e o fermento na panela no fogo e deixar amornar, com cuidado para não esquentar demais. Em seguida, bater no liquidificador com os ovos e um pouco da farinha. Juntar, em outra vasilha, com o restante da farinha e bater com a colher de pau. Quando obtiver liga, amassar com as mãos. Acrescentar mais margarina, se necessário, até a massa ficar bem mole. Mexer bem (sovar) – quanto mais bater, segundo D. Maria, mais fofinha a massa fica.
Para saber o ponto para por a massa no forno, deve-se colocar uma bolinha pequena de massa dentro de um copo- tomar cuidado para não pegar dos lados do copo – com água. Quando estiver na hora a bolinha irá subir (boiar). Assim, depois de colocar no copo, já deve-se fazer as bolas de massa e deixar na fôrma untada, pronta para o forno, e esperar. A bolinha costuma demorar para subir, paciência é bom! O forno deve estar aquecido com antecedência.

Não tenho dúvidas que no forno convencional o gosto fique outro. No forno de barro de Dona Maria e Seu Lau, acrescido o capricho da dona da casa, as rosquinhas ficaram deliciosas, crocantes e fofinhas ao mesmo tempo! Comi sem parar.

Francisco Sá, MG, 22 de outubro de 2009

MINHA BARRIGA MAIS PARECE UMA ESCOLA DE SAMBA




Não sei se foi o almoço na rodoviária os lanches, a água ou o excesso de chocolate. Mas desconfio que foi a maldita mortadela! O fato é que minha barriga mais parece uma escola de samba, batidas para lá e cá, e dores como pé apertado em sapato novo.
Passei a noite assim. Dizem: “como uma rainha – do trono para cama, da cama para o trono”. E quase sem conseguir dormir, com as dores.
De manhã cedo, não agüentando mais, Ioni, onde tem um hospital? Fui para o Posto de Saúde, de lá o Pronto Socorro. Terrível ficar doente na estrada! Enfermeira, médico plantonista, remédios, está sozinha? E eu sem conseguir engolir os comprimidos enormes, um-dois-três-engole! Não desciam na garganta.
Logo, logo é o próximo ônibus, estarei melhor.

Montes Claros, MG, 21 de outubro de 2009

ENCONTRO NA RODOVIÁRIA



Estava eu, lá, sem saber para onde ir. Pergunto daqui, pergunto dali, e daqui a pouco me falam de comunidades quilombolas que residem próximo a Montes Claros. Ânimo – posso ir para alguma delas. Mas qual? Como saber?
Coincidência, destino ou sei-lá-o-quê, na rodoviária encontrei com Djalma, moço alto, negro, magro, de fala mansa e que gosta de conversar. Ele me contou de sua comunidade, e entre elogios de sua terra e perguntas sobre o meu projeto, uma decisão: é para lá que vou.
“Se pegarmos carro agora dá tempo de você chegar ainda hoje em Poções”. Comunidade de Poções: apresento-lhes o nome do local. Djalma passaria uma noite em Francisco Sá, cidade próxima e no caminho, e eu iria direto para o povoado/comunidade. Pegamos o transporte e fomos.
Mas havia chovido, e houve dois acidentes na BR – motivo que fez com que esperássemos junto a uma fila de carros, e caminhões, e ônibus, e carretas, e tudo o mais que se pode encontrar em estradas. E a idéia de pegar no mesmo dia o ônibus para Poções caiu por terra – “essa hora não vai dar mais não, moça”.
Chegamos em Francisco Sá. E, para que eu não ter que gastar em pousada, Djalma me levou à casa de Ioni, amiga dele, que me recebeu e abrigou muito bem!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Montes Claros, MG, 20 de outubro de 2009

Os rapazes do circo me trouxeram, de carro, até a BR. Gostei demais de ficar com essa grande família, aprendi muito, e peguei hoje o ônibus quase com atraso.
Contive-me para não dormir no trajeto, tão gostoso é viajar!

Montes Claros, uma cidade enorme, não imaginei que seria tanto. Bonita cidade, pareceu-me da janela do ônibus com cortinas que nunca fecho.
O hotel mais barato, por favor, só até amanhã de manhã, porque já quero voltar para os povoados. Isso, sim, retomei a coragem! E quis comemorar. Aí, depois de ligar para casa e saber sobre a passagem de amanhã, fui no shopping ao lado da rodoviária. Primeira parada: Banco do Brasil. E mais um motivo para comemoração, o dinheiro de um trabalho finalmente entrou, e agora pude pagar o empréstimo que fiz antes de sair de casa. Achei que teria o dinheiro em mãos bem antes de pegar o primeiro ônibus, mas que nada.. Agora sim, respirei mais tranqüila. Ao menos as passagens até o Rio Grande do Sul estão garantidas!

Então, vamos à comemoração.
Primeira idéia: cinema. Eba, e com pipoca! Fui lá, três salas, nada de bom. Estava disposta a gastar, mas não era para tanto.
Fui procurar outra coisa.
No caminho , o 2º Concurso de Esmaltação bem no meio do shopping, com muitas pessoas paradas em torno. Como assim? É, pintura em unhas. Muitas mulheres em mesas amarelas e azuis, e um júri de peso, grande, analisando. Estranho!
Supermercado, é para lá que vou. Enorme, quase do tamanho dos povoados que visito. Andei pelos corredores. Uma lata de brigadeiro, um saquinho de granulado e um pedaço de mortadela. E água, muita água! Essa foi a minha maneira de comemorar, no hotel, mais tarde.
Sempre falaram que minhas misturas de comida eram estranhas, rabada com pão, pipoca com tempero de miojo.. Mas foi o que eu queria comer, e segui com meus saquinhos de compras a tiracolo. Até hoje, uma semana depois, período em que passo a limpo essas linhas tortas, me arrependo da mortadela! Mas sigamos a história no tempo que foi.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

XIXI NA BEIRA DA LAGOA

(3ª pessoa do eu)




Ela estava apertada, que vontade de fazer xixi. Mas não havia banheiro, resolveu perguntar como faziam. E ficou tímida. Aí viu a menina e decidiu perguntar a ela, crianças sempre são boas para perguntas indiscretas. A menina disse que faziam em potes de alumínio e depois jogavam na vala ao lado, e a moça imaginou que cada um deveria ter o seu penico particular. Decidiu não falar com a mãe da pequena, se resolveria sozinha.

Olhou em volta, mato nenhum. Algo ali em cima parecia um banheiro, foi lá, teve nojo do cheiro, das cores, e não havia vaso sanitário. Viu a lagoa, andou até lá perto. Olhou em volta, pessoas só ao longe. Estava de saia, poderia fazer ali, dizem que faz bem às árvores, não dizem que é para fazer no banho?

Abaixou, ainda olhando o local. Decidiu-se, faria ali.

Naquele instante uma outra menina, anônima menina, foi para o parquinho ali atrás. Maldita hora. A barriga da moça doía, vai embora menina, vai. E nada dela sair.

A moça resolveu ir ali, um pouquinho mais embaixo, próximo à água. Discretamente, ainda agachada, baixou a calcinha até os joelhos, a saia cobrindo, havia uma rua e calçadas e canteiros até a menina, ela não tinha como ver nem supor. Ajeitou a saia longa – era impossível alguém ver algo. Agora podia fazer. Mas quem disse que conseguia? Vamos, antes que chegue alguém! Não tinha jeito, não conseguia.

Resolveu fazer chiado, sempre funcionava. Shhh, shhhh... Ai, finalmente. Desde ontem o líquido estivera preso, só agora se lembrou.

Não molhou nada, só o chão de barro com grama, problema algum. Olhou para os lados para garantir – não, ninguém viu nada. Nem sabia do que ter vergonha, mas tinha.
Arrumou discretamente a calcinha, como quem procura algo, com calma, na pochete.

Ufa!

Aliviada, voltei para o circo.

Mamonas, MG, 20 de outubro de 2009

Tenho aprendido, nesse pouco tempo, com o pessoal aqui do circo. Eles, pela experiência, sabem que não se deve insistir se não está dando certo, e isso não deve ser um sofrimento. Baixam a lona e seguem em frente, para outras terras.

Hoje voltou um pouco da coragem, e às 14h pego ônibus para Montes Claros, chego à tardinha, durmo, e pela manhã procuro outro povoado por ali, pela região. Sabia que não seria fácil e bem vinda sempre, só não calculava o quanto isso me afetaria.
Vou ligar para mãe, dizer onde estou.

Mamonas, MG, 19 de outubro de 2009

NO CIRCO

Peguei carona com o rapaz e vim parar em Mamonas. Mas eu não queria ir para o hotel, e lembrei que as crianças haviam dito que aqui estava um circo itinerante. Decidi tentar a sorte mais uma vez.

O rapaz da van me deixou em frente ao Victória Circo, disse que, qualquer coisa, procurasse a prefeitura. Já escurecia. Cachorro latiu, lona, barulho de TV e alguém espiando pela janela. Expliquei. Chamou-me para entrar. Deu-me um lugar para ficar. Foi lá pegar algo. Sentei na cama, mãos na cabeça, mais uma vez caí em um choro sem fim.
De repente a menina e a mãe. O que foi, mulher? Expliquei, disse que estava com medo de seguir. Respondeu que é assim, que por aquelas bandas eles também estavam sendo rejeitados, muito preconceito, que essa profissão é assim mesmo, gostam e não gostam, que coragem viajar sozinha! Estavam voltando para Bahia na noite seguinte, mas, até lá, a ‘casa’ aqui também é sua, não se preocupe.

À noite, apresentação. Povo quase nem ria, só olhava de braços cruzados. Apresentei dois números, mas foi bem ruim. “Metade é você, outra metade é o público” – lembrei Chacovacci. Valeu por ter visto o número final dos palhaços daqui.

Agora estou em um trailer. Uma delícia de lugar, um sonho não ter que se preocupar com hospedagem. E pessoas que sabem o que é viver na estrada, sem muitas certezas traçadas do dia de amanhã.
Vou dormir, nada como uma boa noite de sono, e, quando acordar, espero estar melhor

Dourados, MG, 19 de outubro de 2009

Não deu.
Hoje saí de Guanambi ao meio-dia, ansiosa que estava à espera do ônibus. Como da outra vez, escolhi um lugar a partir do acesso à região, e meu dedo indicador no mapa foi parar em Dourados. Lá fui eu falar com o motorista para parar na BR, lá fui eu para o novo povoado escolhido.

“É ali”, disse a placa no canto do asfalto. E eu pensei: tão pequenina região? Mas desci.

“Boa tarde, tudo bem? Eu tô vindo lá de Salvador e blábláblá blábláblá...”
“Ih, aqui vai ser difícil. Não tem lugar para ficar, não!” (Silêncio.) “Sobe lá, vê se acha alguém.”
Rua deserta, de chão batido. Lá vou eu, minha mochila e meu carrinho.
“Boa tarde...”
“Não sei, não. Tenta Jane, ali”.
Sol, muito sol. Carrinho empacando, sobe e desce de estrada.
“Boa tarde..”

Assim se repetiu a cena várias vezes. Umas duas crianças me viram, “eu gosto de palhaço, gosto demais! Talvez possa ficar na casa de vó.. Vóóóóóóó!!!”
“Não sei onde pode ficar.”
“Mas vó, ela precisa só de um cantinho, tem saco de dormir..”

A avó olhou para o menino séria, cortando-o com o olhar e a mão. Vi que ali também não seria bem vinda.

Sobe rua, desce rua, sol forte, carrinho cai derrubando tudo, pressão que desce, choro que vem.. Minha Nossa Senhora do Cadê a Minha Mãe, me ajuda!! O quê é que eu estou fazendo aqui?

“É melhor você ir pra Mamonas, lá que tem mais crianças. Aqui tem pouquinhas, a escola quase fecha.”
Pensei rápido: como? Eu estou no meio da BR, não para ônibus por aqui..
“E dá pra ir hoje?”
“Pega a van que traz as crianças da escola, às 5h.”

Um obrigado, um tchau de oi confuso. Puxa carrinho, agüenta o sol e volta tudo. Ai ai ai que calor, e agora?
A estradinha parecia não ter fim. Hoje foi o único e primeiro dia que desejei estar em casa, com pessoas conhecidas, desde que saí de Salvador.

Chorando, sentei na calçada em frente à BR, mochila no chão, carrinho parado. E choro, e choro. Não deu. Quis pegar ônibus direto para Porto Alegre, não vou ter mais coragem para seguir.

Dali a pouco lá vem as crianças. Seca o rosto coberto de sal, guria, elas não tem culpa de tuas escolhas. Sentaram comigo, conversamos. Caminhões de todas as cores no asfalto quente. Eu quero ser atriz e cantora, eu modelo, eu não quero ser nada. “Ele diz isso porque queria ser caminhoneiro, mas tombou um ali na frente e ele ficou com medo!” E passa tempo. Querem conhecer a vovó? Mostro a pequena boneca do Mundo Miúdo. É bonita, é engraçada. Tchau, se der volta aqui para apresentar para gente. Se desse apresentaria nesse meio tempo, mas já vem a van, já já. Tchau meninada. E obrigado pela companhia!

Só me resta seguir em frente.

Guanambi, BA, 18 de outubro de 2009

Um P.F., um suco de laranja, tem crédito para TIM?
Sentei para almoçar.
Mais um dia aqui – o segundo – em um hotel em frente à rodoviária. Não consegui mandar todo o material ontem para Salvador, e resta-me agora esperar o domingo passar e embarcar na segunda-feira, depois do envio.

Na mesa ao lado um grupo de cervejas. Digo, digo: de homens. Música alta no carro, cigarros, olhares para mim. Óculos escuros e pinta de garanhões. Eu, quieta, almoço.

Pensei em apresentar hoje à tarde por aqui, mas o sol é forte, o centro é longe, e o chapéu não paga um ir e vir de carro. Garçom, aqui nessa mesa de bar.

No hotel ventilador, uma cama de casal, uma TV com seus programas domingueiros que nunca mudam e um chuveiro que dá choques – uso o rodo para abrir e fechar, já que a toalha não resolve.
E novamente uma liberdade para andar pelo quarto seminua, e dormir, e deitar. Nada mal, mas que passe logo essa espera.

Continuo em paz, sem ansiedade nem tranquilidade extremas, feliz de estar onde estou.
Ao lado, foram embora o carro, os homens e as fumaças, e eu volto para o hotel de barriga cheia.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

CARTA GAUCHESCA Nº 2

Novidades... Poucas (Mas sempre com gosto bom de saudade e carinho sogrênha... Hehe)
E diretamente dos pagos gauchos, algumas considerações...

Aqui a vida galopa seu percurso... Cada qual na sua busca de não sei o que...
Cada qual na esperança de encontrar algo...Um bilhete premiado,um Palpite de Milhar...
Que a vida nos dê o que merecemos...
Que nos tornemos o que queremos ser, o que podemos ser, o que soubermos ser...
O que realmente importa é que devemos saber que tudo, sempre vai depender de nós,de nossa vontade e energia para conquistar...não sei o que
nem quando ,nem porque.Só isto, mais nada...
Sei que Genifer acredita nisto: no poder que tem de ser o que quiser ser...
 E para todos: um quebra-costela bem apertado!!!!

Ruth Gerhardt, La Mama!

CARTA GAUCHESCA Nº 1


Saber que nossa gringa está na estrada, depois de tanta preparação, dá uma alegria que
sobrepõe até a preocupação. Esta é a essência desta garota:fazer acontecer aquilo que
acredita ser primordial para seu crescimento! Seja onde e como for, assim será!
Nosso pampa começa a se preparar para a chegada do verão.
Dias quentes, até demais, já se fazem sentir...
Foi-se o frio, que neste ano superou os anteriores. Sensações únicas, só se vivenciando
para saber. E é isto que me encanta aqui no sul, esta diversidade no clima. Esta certeza de que poderemos sentir e curtir variadas sensações. Acompanhando tudo isto,uma
infinidade de opções gastronômicas que condizem com a estação, porém em todas o
nosso gostoso churrasco e o chimarrão.Este último aquecendo a alma e o coração nos
dias gelados de inverno e espantando de vez a sede nos dias quentes do verão.
Cá estou com este companheiro de todo dia,meu chimarrão, a esperar ansiosa e feliz
a chegada de Genifer e tua para comemorarmos um belo Natal e saudar a chegada de 2010.!!!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Campinarana, BA, 17 de outubro de 2009




DESPEDIDAS

Hoje foi a minha partida. Saí com Ricardo para Itambé, e de lá pego ônibus para Guanambi, cidade maior para envio de material – fotos, vídeos, textos.
Antes, porém, quis deixar o dinheiro arrecadado no chapéu nas duas apresentações (bem mais do que recebia no chapéu de Salvador!) com Dona Aparecida, para ajudar nas despesas. “Não, leve com você, e siga com Deus”.
Ontem fiz a última apresentação da peça aqui no povoado, regada a risadas gostosas de crianças, após uma celebração realizada pela igreja em frente à casa que estou. Foi uma delícia!
Anteontem apresentei aqui o ‘Mundo Miúdo’. Foi bom não ter começado com isso, e vi que não havia necessidade de cobrar trocas com essas apresentações, porque, desde que cheguei, tudo foi descoberta e conhecimentos trocados.
A fila para ver o mundo dentro da caixinha foi grande. As crianças, já mais traquinas e soltas que no início, empurravam-se para garantir um bom lugar. E apresentei pela manhã e pela tarde.
Agora a pouco, ao me despedir, abraços apertados. Fui até a casa de Joanes e D. Janete para dar um “tchau”, e me desejaram boa viagem segue com Deus ou Jeová.
Na casa, lágrimas nos olhos. D. Aparecida se conteve, pedindo desculpas por qualquer coisa. Nada, D. Aparecida, foi tudo maravilhoso! As pequeninas Laisla e Niqueli, a última que andou sempre agarrada comigo. Edilene, companheira de uma caminhada deliciosa pelos arredores, com direito a paisagens cinematográficas e pôr do sol, tela do céu pintada de branco, laranja e azul. D. Palmira, senhora linda. E mais, e mais.
Despedidas já não me machucam tanto, momentos de mudança necessários. Mas ali, junto com eles e elas, confesso que contive o choro. Parti com pedidos de que voltasse logo e que ligasse de Guanambi, para não ficarem preocupados.
Um abraço, lá vou eu.
Mãe, to chegando mais perto!

Campinarana, BA, 16 de outubro de 2009

Acordei hoje com uma missa apresentada na TV de Dona Aparecida.
Ao acordar, em minha cabeça vieram os momentos de minha infância em que íamos à missa na igreja grande e bonita de Santa Cruz do Sul: eu, pequenina, tentava recitar junto com os demais as respostas ao padre, em um levanta-senta-levanta que não me deixava dormir.
Veio-me, também, a lembrança de quando fiz a catequese, e todas as dúvidas das conversas com os catequistas. De terem me apresentado um Deus que fez tudo, mas que não era tudo - coisa estranha de se crer. De eu questionar quem era o pai de Deus, de me darem respostas finitas: ali acaba o universo, no criador. De minha cabeça de menina confusa com isso tudo.
Da vela em minhas mãos, roupa branca alugada, em pé em frente a tantas pessoas e santos e anjos e o padre a perguntar: “jura sempre respeitar pai e mãe? Jura sempre vir à igreja aos domingos?” e eu a enrugar a testa e só mexer os lábios sem voz – como poderia jurar isso, se minha vida prometia ser tão grande e longa e nunca-se-sabe-o-dia-de-amanhã?
Mas os salmos continuam em meus ouvidos, e as respostas prontas ao padre hoje vieram todas. Respondi em mente junto com D. Aparecida, ali na sala ao lado, agora e sempre, amém.

SOBRE REFÚGIOS


O que sempre me perguntavam é se eu não sentiria saudades de ter uma casa, um lugar para chegar quando, cansada, quisesse descansar dos acontecimentos, das pessoas, dos dias, enfim. Não tinha muitas certezas. Guardava comigo a frase de Mário Quintana, “minha casa é em mim”, mas não sabia ao certo como seria isso, na prática.
Ainda é cedo para dizer. Embora pareça que já estou há meses aqui, foram apenas cinco dias fora de casa
(e até eu me espanto, pensando “só?”). Parece-me muito mais!
Mas descobri, já, que sinto-me em paz quando estou sozinha, em silêncio, longe de todos. Sinto-me acolhida em mim. E procurei lugares aqui de refúgio, os achando de manhã cedo próximo à cruz – ao subir a estrada de chão, à noite ao deitar deixando a luz apagada ao escrever em meio à escuridão e ao lavar minhas roupas na beira do rio. Acho que momentos de refúgio são momentos de estar em casa, para mim. Ao analisar o mapa, decidindo para onde ir no dia seguinte. No banheiro, escovando os dentes. E na estrada, sentada rente à janela do ônibus, no silêncio ou com música a me acalmar a alma. Acho que é isso: tenho a impressão que dentro de mim reside minha morada.

TUDO CERTO, COMO DOIS E DOIS SÃO CINCO...  
(Caetano Veloso)

Aqui o sol castiga, e o emprego é pouco. Quando não se trabalha na limpeza do povoado, trabalha-se com o transporte das pessoas ou na escola. Afora isso, só em Itambé, na fábrica da Azaléia ou em casas de família.
Dona Aparecida trabalha na escola. Lá o quadro de professores é quase todo de Itambé, com exceção de umas três professoras.
Conversando com Cristiane, a diretora, ela disse que é difícil manter a escola pela quantidade de alunos. “Tem turma que tem três crianças”, diz, “mas não deixamos de fazer a turma para não atrasar os meninos”.
Edvanda, moça simpática e sorridente de uma família de seis irmãs e só um rapaz, contou-me de outra moça que vai sair do colégio. “Ela quer trabalhar, aquela ali vai casar!”. Para isso já decidiu que vai largar os estudos.
Hoje chegou Rafaela, outra filha de D. Aparecida. Risonha, veio de Vitória da Conquista, onde trabalha em uma casa de família, e de 15 em 15 dias vem para cá, para passar uns dias, tomar banho de rio e matar as saudades de casa. Chegou fazendo bolos e guloseimas. Depois trocou contato, ‘orkut’ e ‘MSN’, que ela acessa em Conquista.
O outro rapaz da família foi para São Paulo. “Faz tempo que não liga, e que não aparece também”. Fica a saudade, foi tentar a vida. “É isso mesmo, tem que trabalhar!”

Campinarana, BA, 15 de outubro de 2009

Entro no meu quarto dia aqui no povoado.
Sinto diferença, já. Conheço mais as pessoas e elas a mim, o que me permite ficar mais à vontade.
Havia pensado em acelerar o processo pela experiência mais do que intensa do dia 12. Mas fico feliz de ter permanecido aqui mais esse tempo. Já sinto certa rotina em meu dia.
Aqui há um grupo de teatro, começaram a pouco tempo. Desde que Matheus teve contato com um grupo de Itambé, e este – rapaz de cabelos negros e cacheados – começou a organizar o grupo daqui. Ontem teve apresentação, à noite, na escola. Uma história de terror, baseada em um filme que viram. Sangue de groselha, espingardas. Muitos saíram antes do fim, com medo. Fiz uma participação, havia faltado uma pessoa, e morri logo no início da peça.
Um belo grupo que promete, pela sua disponibilidade e organização!

DONA MARIA, A SENHORA QUE MORA NO CEMITÉRIO

Cá em cima do povoado tem um cemitério.
Poucos corpos, sem muros porque caíram e não tornaram a construir,
poucas flores.
De lá se vê bem a região inteira.
E é lá que mora Dona Maria.

Ela veio assim, ninguém sabe da onde.
Estava na estrada, solta
E para ajudar trouxeram ela para cá.
Fizeram uma casinha para ela, construíram.
Mas Dona Maria não quis ficar lá, foi para o cemitério.

Não sei se antes ou depois disso, engravidou
“Foi alguém que pegou ela na estrada” – dizem.
Teve o filho, mas este não resistiu e morreu.
Hoje ela mora lá, em outra casinha construída pelo povo há uns 25 anos
Dorme sobre a lápide do filho
E não faz medo às crianças da região.

Dias desses, eu levada pelas crianças pela mão para conhecer o povoado, falaram:
“Vamos visitar Dona Maria”
Todos concordaram, e lá fomos nós.
“Dona Maria, visita para a senhora!”
Aquele é o gatinho de D. Maria
E é cá que ela vive.
Tem problemas, ela, é doente.

Dona Maria não trocou palavras, só olhares. Um olhar simples e triste e cansado e calmo e curioso, se se pode ser tudo isso ao mesmo tempo.
Dona Aparecida manda comida para ela, outras pessoas também. As crianças que levam, às vezes.

Tchau, D. Maria, pode tornar a dormir.
Vai ninar teu filho perdido.

NOMES

Incrível como os nomes enganam quando se tira deles o peso dos anos.
Hoje um rapaz – Ricardo – me emprestou um livro escrito por Cezar Negreiros, intitulado “As Memórias de Santo Antônio da Cruz”, antigo nome do povoado daqui.
Lendo-o descobri a origem do nome da grande cidade aqui da Bahia, ‘Vitória da Conquista’. O que pensar desse nome? Uma conquista heróica? Uma guerra em pró das classes menos valorizadas? Não. Uma chacina de nativos realizada por colonizadores europeus.
Segundo relatos trazidos pelo autor através de historiadores conquistenses, para garantir a posse das terras foi organizada pelo bandeirante João Gonçalves da Costa uma grande festa em homenagem a Nossa Senhora, onde foram convidados todos os nativos, índios botocudos e aimorés. Na festa houve farta distribuição de cachaça e, lá pelas tantas, passaram a oferecer bebida envenenada. Quando perceberam, os que ainda não haviam morrido foram executados friamente pelos colonos com golpes de facão e punhal. Esta noite ficou conhecida como “Festa da Conquista”. Mais tarde: “Vila da Conquista”, e assim por diante.

NEGREIROS, Cezar. As Memórias de Santo Antônio da Cruz. Rio Branco, Acre: Gráfica e Editora Floresta, 1999.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Campinarana, BA, 14 de outubro de 2009

Tenho certo receio em sair daqui. Tudo é tão brando, e simples, e belo que, eu mesma, temo o que espera lá fora.
Marquei data para saída: sexta-feira próxima, dia 16. Ficarei um dia em uma cidade maior, para organizar tudo e mandar o material para Salvador. Ainda não decidi para onde, mas pretendo sair daqui nessa data.
As crianças me perguntam quando irei, dizem que é para eu ficar aqui, com elas. Sim, lugar maravilhoso para se criar filhos – não nego que pensei. Uma fortaleza rodeada de rios.
Agora D. Aparecida canta na cozinha. Católica, ouve músicas de Deus. E eu, com minha maneira torta de rezar, hoje de manhã bem cedo fui até a cruz apreciar o nascer do sol.
Sempre quis, depois de grande, aprender a rezar. Não me fazia muito sentido um pai, um filho e um espírito santo e tudo o que vem atrelado às religiões, a não ser a fé, pura e simples. Mas sinto que ando em paz com isso, capaz de tudo e a todas as crenças ouvir e respeitar.
Arranjei sinais para minha reza que fazem sentido para mim, e ela tem o ritmo de meu coração que pulsa entre meus dedos entrelaçados ao avesso.

Campinarana, BA, 13 de outubro de 2009




Quanta tranquilidade reside aqui, sinto-me lisonjeada de conhecer este lugar, de ter vindo parar neste chão.
Hoje comi manga verde com sal com as meninas ao lado da quadra. Sim, aqui se tem uma quadra, um campo de futebol com espinhos, uma igreja, duas escolas, uma barbearia e um cemitério. E rios, rios deliciosos! Tomei banho de rio com as meninas, com minha saia presa nos seios como um vestido. Assim, simplesmente estávamos lá, a olhar o rio, e uma delas disse: “vou entrar” e entrou, de roupa e tudo. “Logo seca a roupa”, disse para minha cara de espanto. E foram, e foram. E fui, e fui.
Estava delicioso, assustadoramente gostoso. Um rio calmo e limpo, com um tempero de vida que povoa tudo por aqui.




SOBRE AS CRIANÇAS
Leves, livres e educadas, das mais educadas que vi. De se espantar! Meu cenário ficou ontem montado por mais de duas horas na rua, duas malas abertas recheadas de badulaques e com uma flor grande em cada, e nenhuma criança nem sequer tocou em nada, e nem foi preciso pedir. Só olhavam, curiosas. Vão ao rio, à casa dos vizinhos. Brincam com os bichos, vão para a quadra “brincar bola”. Aqui uma menina perguntou: “você nunca plantou cabelo?” – para saber se eu já os tinha deixado crescer.

Laísla e Niquele


Ian e o Tomate



Campinarana, BA, 12 de outubro de 2009

O PRIMEIRO POVOADO


Foi o ônibus das 8h que peguei, aquele em que o motorista morava aqui perto e poderia me dar respostas mais precisas.. E deu. Disse-me que eu poderia ir para Limeira, mas tinha que andar uns três quilômetros “de pé”, que mais tarde descobri serem 14 km. Ou que eu podia ir para Itambé e de lá pegar carro para Campinarana. Foi o que fiz.
Quem me trouxe de Itambé para cá foi Toinho, um senhor simpático que sempre morou em Itambé, que gosta daqui, onde tem rio e é sossegado. Simpático e de sorriso largo me deixou na beira do rio, onde fiz a travessia de canoa.

Do outro lado uma pequena estradinha de areia fofa – onde o carrinho insistia em atolar – e lá estavam as pessoas, de olhar largo para mim.
Andei mais um pouco e encontrei um aglomerado de gente. Parei o carrinho, respirei fundo, sorri. Expliquei de onde vinha, que fazia teatro de rua, há alguma pousada por aqui? Incrível como fui bem recebida! “Aqui a casa é pobrezinha, mas pode ficar”, disse Dona Aparecida, de uma geração de quatro da mesma família que conheci aqui. Fez-me entrar, pode deixar suas coisas ali. Fique à vontade. E uma fila de crianças a se entrelaçar no sofá para me ver.
Timidez – e agora, o que faço? Brinquei com uma criança ou outra, riram comigo. Perguntei nomes. A segunda que se apresentou foi Ruth, chamada aqui de Ruthinha, como minha mãe (assim, com “th”). Logo depois descobri a Jenifer, outra menina, e pouco a pouco toda a minha família possuía um representante de mesmo nome no povoado de pouco menos de 500 habitantes, com rios em torno na região do Vale do Rio Pardo – mesmo nome da região onde minha mãe foi criada, quando pequena, no Rio Grande do Sul.

PRIMEIRA APRESENTAÇÃO APÓS A PARTIDA

“Faremos hoje uma festa para as crianças”, disse Dona Aparecida, “com comida, presentes, bolas que a gente comprou”.
Pronto, apresento aí, então.
Ela abriu um largo sorriso.
À tardinha, uma gambiarra em frente à casa de D. Aparecida, panos de várias cores em uma decoração bela e cuidadosa. Pipocas, bolos, cachorro-quente, presentes. Muitas crianças, vindas de todos os lados. Bolhas de sabão, pequenas, médias e grandes, presente também. Talvez um presente para mim, que sempre as apreciei.
Mais tarde a palhaça, a apresentação. Antes, porém, canções interpretadas por Jô e um moço no violão.
Público farto, nervosismo. Mas pé na tábua, lá vou eu. Risos, já na entrada.
Atrevo-me a dizer que, dentre as que realizei, foi esta a apresentação com o melhor retorno do público para comigo. Nunca riram tanto, me assustei até. Susto doce e contente, como suspiro de amor. E o homem que participou comigo do número do ovo a me abraçar apertado, sem medo de se sujar.
Fotógrafa, também, mais do que especial: Ana, de 12 anos. Mais cedo viu a câmera e mostrou interesse. Perguntei se gostava de tirar fotos, disse que sim. Se gostaria de tirar também mais tarde, na apresentação? Disse que sim. E fez um trabalho lindo, sem nem conhecer a câmera direito.
Início de jornada cheio de surpresas, um dia das crianças especial. Se não estive com meu irmão, que hoje completa seus 10 anos, celebrei brincando com outras crianças, pensando nele e em seu sorriso moleque.



TIRINHAS: BREVE ÁRVORE GENEALÓGICA
Dona Palmira: a bisavó. Senhora de 64, e nem parece. sentou-se comigo e conversamos sobre a cidade, os parentes, casamento, filhos, cigarras que explodem e moradores antigos do povoado.

Dona Aparecida: a vó. E também nem parece. Foi quem me recepcionou, oferecendo estadia e comida maravilhosas, uma pessoa dedicada, preocupada e prestativa.

Jocasta, Danila e Rafaela: algumas das filhas de D. Aparecida. Jô é alegre e canta lindamente. Mostrou-me as fotos de seu casamento, há pouco mais de um ano e pareceu-me que fugiria com o circo se tivesse possibilidade. Danila é tímida e doce. Como a grande maioria, também é contra a criação de uma ponte sobre o rio que dá acesso ao povoado, o que facilitaria a entrada de pessoas e poderia trazer insegurança à população. Rafaela apareceu por último, vinda de Vitória da Conquista, mas falo desta mais para frente.

Ruth e Catarina: as pequenas filhas de Danila. A primeira com seis anos e a segunda com seis meses, crianças simples e sorridentes.

       

Vitória da Conquista, BA, 12 de outubro de 2009

Está frio aqui, minha alma toda treme.
À parte isso, jamais imaginei ser tão difícil chegar em um povoado. Trouxe no mínimo dez opções, e não encontrei ônibus direto para nenhuma delas.
Entre guichês e pessoas dispostas e não a ajudar, percebo já um sotaque novo.
Agora espero um ônibus – possível embarque – para Itambé, onde conversarei com o motorista para ver se consigo que entrem em Limeira ou Campinarana. Estou ansiosa, assim, sem saber para onde ir. O último moço fora simpático, tentou me ajudar, e torço que esse ônibus das 8h me dê um direcionamento.

Salvador, BA, 11 de outubro de 2009

RODOVIÁRIA, 22h 04min


Malas, abraços, homens de crachá, crianças choramingando pelo sono que vem.

Estou na rodoviária, eu e minha bagagem pesada de fim de feira. Tranquila, parece-me uma viagem qualquer de encontro de mãe.

Cheguei cedo, 20h e 30min para garantir a passagem: se não for o das 22h 50min vou no das 21h. Deu para o de mais tarde, não chego lá tão cedo. Arrumo com o que me distrair.

Fui na papelaria, comprei gibis. Obrigado, amor, pela excelente dica! Mônica? Heróis? Não, Pateta. Uma delícia, há anos distante. Depois pãezinhos de sogra, e cuidadoparanãocomertudo,paracomeramanhã! – minha consciência grita, aflita.

Escovar os dentes, faxineira faceira a cantarolar em notas agudas. E agora um brincar de escrever.

Foi meu sogro quem me trouxe, pessoa também incrível. Silencioso. De bigodes, torcedor assíduo do Vitória. Engraçadíssimo ao beber. Silencioso.

Nunca havíamos conversado tanto, eram sempre quietos nossos trajetos. Hoje falamos até aqui, recomendações para a viagem, mas para que o interior? Ajudou-me com as malas ao sair de casa, machucou a coluna. Espero estar melhor.

Achei que estaria ansiosa, não estou. Sentindo-me só? Nem um pouco. Tranquila, aguardo.

A chuva passou após um dia inteiro de choro. E Paulinho Moska canta “Tudo Novo de Novo” em meus ouvidos de sono.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

CARTA SOTEROPOLITANA Nº 1


Olá a todos que acompanham o MÃE,TÔ INDO.
Sou Expinho e venho lhes anunciar uma novidade.
Agora todos devemos e podemos nos manifestar.
Duas novas seções serão abertas aqui. São Elas:
CARTAS SOTEROPOLITANAS e CARTAS GAUCHESCAS

Sobre as Soteropolitanas; Todos os que morarem em Salvador
e quiserem mandar notícias para Genifer, a Errante, podem e devem
ficar a vontade enviando um email em forma de carta para mim:

tiago13espinho@hotmail.com

Toda SEXTA-FEIRA Será selecionado um e-mail/carta e devidamente postado.

Sobre as Gauchescas; Serão postadas pela própria mãe e família da nossa querida
Genifer direto de Porto Alegre.
Acompanhem toda TERÇA-FEIRA.

Feito o anúncio, eu, esse humilde servo, já estou a esperar pelo contato de vcs.
Lembrando que amanhã já estreiaremos com uma belíssima Carta Gauchesca da mãe Ruth.

domingo, 11 de outubro de 2009

ÚLTIMA APRESENTAÇÃO DO ANO DE PALITOLINA EM SALVADOR / ÚLTIMO DIA DO ANO EM SALVADOR


Acordei mais cedo: todas as pessoas, móveis e roupas ainda dormem. Tenho-me ansiosa em uma alegria que treme, como primeiro dia em escola nova.
Ontem fiz a última apresentação de “Re-Bolando com a Gringa Errante” aqui em Salvador, e me diverti muito! Ontem todo o dia ameaçou chover, e temi não poder concluir para começar. Mas os deuses e deusas e anjinhos todos seguraram a chuva até depois da apresentação, e ela veio, à noite e hoje, longa, doce e iluminada, finos fiapos de luz caindo em procissão. “Nunca deixe de agradecer ao universo, viu?! Nunca esqueça...” – disse-me um amigo do Ceará que entende de santos, olhares e comunicações. Não esquecerei, não esquecerei.

Junto com o dinheiro do chapéu – nas últimas apresentações/despedidas com valores jamais equiparáveis a qualquer outro dia meu de apresentação – vieram alguns presentes. Especiais, todos! Dois colares com pedras e tramas. Um pingente de máscara esculpido em latão. Um lanche. Uma casca grossa de árvore com “Gê” esculpido, presente duradouro. Uma blusa linda, Palitolina desenhada com suas pernas longas, chapéu e meias listradas, articulações de boneca. Tem vida com suas bolinhas vermelhas em torno, leves pingos de delicadeza em tinta. E abraços, dos mais gostosos e apertados, desejando-me boa sorte. Duraram eternidades inteiras, os abraços, e nós ali em meio à praça, pipocas e bicicletas. Obrigado, a todos e todas!

Tenho-me agora a arrumar as malas: potes, mapas, poucas roupas. Tenho-me agora a arrumar despedidas: recomeços eternos de sensações confusas. Tenho-me contente, e confiante. Que chova tudo que há de chover, e luz onde tiver que haver. Em breve estarei na estrada.