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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Capela São Francisco, RS, 13 de dezembro de 2009

RODEIO - 2º DIA

“E agora vamos rezar um Pai Nosso em memória do nosso falecido amigo que mês passado nos deixou e foi laçar lá com Nosso Senhor: Pai Nosso que estás..” - todos os chapéus descumprindo sua função, nos braços, longe das cabeças.

Hoje pela manhã choveu no rodeio novamente. O barro fazia-se poça, a chuva fazia do tempo ainda um frio, como se de inverno - falavam as senhoras entre si. E depois, lentamente, o sol começou a espiar os cavalos, indo e vindo a avisar as nuvens dispersas.

Procurávamos pelo calor do sol como quem cata mosquitos ao dormir, acendendo a luz e observando gravemente as paredes brancas.

Em seguida, churrasco, churrasco! Se em Floripa a carne era rara e nos fartávamos de verduras e frutas, aqui é a carne quem dita o almoço, a salada e o pão são meros acompanhantes. Espetos enormes, carnes macias e suculentas ou a gosto do freguês. Aos vegetarianos peço que não leiam, mas comi com gosto cada pedaço! (Dia desses quis virar vegetariana. Mas em minha cabeça são as verduras também vivas, e as árvores, e vegetais, e frutas, tudo respira alma. Não comer vidas? Mas como?)



À tarde os pingos haviam ido embora de vez, e o chão mais seco permitia a passagem sem as crostas.
Na mangueira - aos não-gaúchos, local onde fica o gado antes de ser laçado pelos peões - as vacas mostravam-se cansadas, e cancelaram um dos campeonatos para que descansassem. E eu, que sempre fui contra rodeios e afins, vi que, ao menos neste, não maltratam as vacas, nem os bois, nem cavalos. Apenas correm, e em uma só laçada buscam acertar-lhes os chifres, encaminhando os animais em seguida até o local definido de término de cada tentativa. “Essa foi branca” - dizia o moço de fala rápida quando não acertavam a mira.



E na cozinha em meio às conversas tive, sem questionar e de repente, o primeiro retorno do meu trabalho: “aquela ali é a Genifer (a senhora apresentava-me à outra recém chegada), ela faz teatro. Se apresentou lá no salão, na sexta. Eu fui ver. Ela é quietinha assim agora, mas lá fez todo mundo rir.. eu mesma ri demais! Até quem não tá a fim de rir, tá meio cansada, dá boas risadas com ela!”. As demais concordaram com as cabeças e com os sorrisos, enquanto eu vibrava por dentro.

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