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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Capela São Francisco, RS, 10 de dezembro de 2009



Saí de manhã, tracei no mapa alguns povoados próximos e peguei o primeiro ônibus para a região: às 11h.
No coração só alegria, alegria, a chave para se trocar. Querendo estar onde estou. E disposta a apresentar, independente de ficar ou não na região. Apresentar como palhaça e ver no que dá.

Fui até o povoado mais longínquo em que o ônibus chegava: Capela São Francisco, município de Monte Alegre dos Campos. E se sempre há receio na chegada, fiz bolas de gude do meu medo e joguei-as à terra, será o que tiver de ser, de minha parte farei de tudo para não haver tristeza.

As pessoas do ônibus desciam nos aproximados 30 km que separavam a grande Vacaria da Capela São Francisco. Já eram conhecidas do motorista, que as deixava em casa despedindo-se pelo nome. Eu fui a última a sair junto a um senhor, que logo perguntou procura a casa de alguém? Não, respondi sorridente, não conheço nada daqui. Vim pelo mapa, trabalho com teatro e vim conhecer aqui e ver se gostariam de assistir algo de teatro. Ele mostrou interesse, que legal, vai aqui na casa da Dona Lita, aqui todo mundo é gente boa!
Chamou por ela, a casa com flores em frente a parada do ônibus. Veio ela, nem sabia do que se tratava e já foi convidando, vem comer, almoça com a gente minha filha. Entrei. Havia bastante gente, boa tarde, boa tarde, um outro senhor que havia estado no ônibus sorriu – bem que eu vi que tu era de fora, nunca vi teu rosto antes. Fica a vontade!

Almoçando contei quem eu era, o quê fazia aqui, nossa, vem de tão longe?
Ah, tu pode falar com o pessoal do salão, pra apresentar ali.


Dali a pouco chegaram duas meninas do colégio, mais tarde fui saber: Marina, 9 para 10 anos, e Vitória, 6 anos. Essa última, a menor, olhou-me demoradamente em silêncio, estranhando-me com um princípio de sorriso nos lábios. Deu um “oi” e foi comer suas polentas.

O senhor, Seu Nini, disse que final de semana haveria um rodeio em Monte Alegre, quem sabe apresenta lá? Sábado e domingo, sendo hoje quinta. E depois, finalizado o almoço, em frente à casa passou um casal e me disseram: fale com eles a respeito do salão! Fui falar. Ah, por nós tudo bem, só tem que falar com o compadre porque a gente decide tudo junto.


Estavam de carro, fomos até a casa do compadre. Sentamos na varanda, as meninas foram junto, parreiral ao lado e chimarrão de mão em mão. Pode, claro. A gente podia marcar para amanhã à noite, sábado não tem aula e à noite é melhor, dá tempo do pessoal voltar do campo, da roça, tomar um banho. Vinte e uma horas, com esse horário de verão, é bom. Ficou marcado. Eu aviso no ônibus do colégio, eu ligo para o pessoal lá de cima, eu aviso quem for encontrando.

E “pousar”, na casa de quem? (Aqui se chama pousar o dormir).
Dona Lita – de Carmelita – já havia dito ser tranqüilo ficar por lá. Aqui é assim, tem muita gente, é meio bagunçado, simples, mas se tu não te importar, aqui sempre tem lugar pra mais um, pode ficar a vontade. E a família de compadres também ofereceu abrigo, e o casal que falei primeiro. Marilei, a mulher do primeiro casal, até insistiu que ficasse na casa dela – tenho um filho só, de 19 anos – mas a esta altura já havia me apegado às meninas, e elas insistiam que eu ficasse por aqui.

À tarde estas, Marina e Vitória, me levaram para conhecer o sítio em frente do avó, senhor do ônibus e do rodeio, Seu Nini. E lá corremos as três atrás das ovelhas, espantamos os quero-queros e, no parreiral, brincamos de entrevistas, de competições comendo uvas ainda verdes e de piadas. Tiramos fotos, andamos bastante e fomos até a “cidade dos segredos” – nome criado por Marina por lá haver grande quantidade da planta dentes-de-leão e por cada um ser, para ela, uma possibilidade de fazer um pedido em silêncio e assoprá-lo ao vento.







As meninas eram os seres mais livres que conheci. Não havia medo, nem nojo, nem lugar que não fossem (salvo o respeito que tinham pelas vacas que olhavam-nos como quem analisa presa frágil). E dentre piadas contadas, histórias e canções, Marina demonstrava seu conhecimento puro e cotidiano: tá vendo a grama aqui mais verde? É que as vacas fizeram aqui suas necessidades.. esterco, sabe? Por isso elas estão liberadas, podem fazer cocô e xixi onde quiser, é até bom! E ali é onde se coloca a uva, e o nome das plantas e animais, tudo Marina sabia. Enquanto isso Vitória era só sorrisos, curiosa e alegre com cada brincadeira proposta.

Ainda não sei quantos são na casa, nem o tempo que ficarei por aqui. Sei que há só alegria em mim, e não pretendo abandoná-la.

2 comentários:

Caroline Holanda disse...

!!!!!!!!!!!
[sem palavras]
Aprendo muito com você!!!
carol

Angela disse...

Todas as fotos são lindas, mas a foto das crianças no alto, é ainda mais linda.