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domingo, 18 de outubro de 2009

Campinarana, BA, 12 de outubro de 2009

O PRIMEIRO POVOADO


Foi o ônibus das 8h que peguei, aquele em que o motorista morava aqui perto e poderia me dar respostas mais precisas.. E deu. Disse-me que eu poderia ir para Limeira, mas tinha que andar uns três quilômetros “de pé”, que mais tarde descobri serem 14 km. Ou que eu podia ir para Itambé e de lá pegar carro para Campinarana. Foi o que fiz.
Quem me trouxe de Itambé para cá foi Toinho, um senhor simpático que sempre morou em Itambé, que gosta daqui, onde tem rio e é sossegado. Simpático e de sorriso largo me deixou na beira do rio, onde fiz a travessia de canoa.

Do outro lado uma pequena estradinha de areia fofa – onde o carrinho insistia em atolar – e lá estavam as pessoas, de olhar largo para mim.
Andei mais um pouco e encontrei um aglomerado de gente. Parei o carrinho, respirei fundo, sorri. Expliquei de onde vinha, que fazia teatro de rua, há alguma pousada por aqui? Incrível como fui bem recebida! “Aqui a casa é pobrezinha, mas pode ficar”, disse Dona Aparecida, de uma geração de quatro da mesma família que conheci aqui. Fez-me entrar, pode deixar suas coisas ali. Fique à vontade. E uma fila de crianças a se entrelaçar no sofá para me ver.
Timidez – e agora, o que faço? Brinquei com uma criança ou outra, riram comigo. Perguntei nomes. A segunda que se apresentou foi Ruth, chamada aqui de Ruthinha, como minha mãe (assim, com “th”). Logo depois descobri a Jenifer, outra menina, e pouco a pouco toda a minha família possuía um representante de mesmo nome no povoado de pouco menos de 500 habitantes, com rios em torno na região do Vale do Rio Pardo – mesmo nome da região onde minha mãe foi criada, quando pequena, no Rio Grande do Sul.

PRIMEIRA APRESENTAÇÃO APÓS A PARTIDA

“Faremos hoje uma festa para as crianças”, disse Dona Aparecida, “com comida, presentes, bolas que a gente comprou”.
Pronto, apresento aí, então.
Ela abriu um largo sorriso.
À tardinha, uma gambiarra em frente à casa de D. Aparecida, panos de várias cores em uma decoração bela e cuidadosa. Pipocas, bolos, cachorro-quente, presentes. Muitas crianças, vindas de todos os lados. Bolhas de sabão, pequenas, médias e grandes, presente também. Talvez um presente para mim, que sempre as apreciei.
Mais tarde a palhaça, a apresentação. Antes, porém, canções interpretadas por Jô e um moço no violão.
Público farto, nervosismo. Mas pé na tábua, lá vou eu. Risos, já na entrada.
Atrevo-me a dizer que, dentre as que realizei, foi esta a apresentação com o melhor retorno do público para comigo. Nunca riram tanto, me assustei até. Susto doce e contente, como suspiro de amor. E o homem que participou comigo do número do ovo a me abraçar apertado, sem medo de se sujar.
Fotógrafa, também, mais do que especial: Ana, de 12 anos. Mais cedo viu a câmera e mostrou interesse. Perguntei se gostava de tirar fotos, disse que sim. Se gostaria de tirar também mais tarde, na apresentação? Disse que sim. E fez um trabalho lindo, sem nem conhecer a câmera direito.
Início de jornada cheio de surpresas, um dia das crianças especial. Se não estive com meu irmão, que hoje completa seus 10 anos, celebrei brincando com outras crianças, pensando nele e em seu sorriso moleque.



TIRINHAS: BREVE ÁRVORE GENEALÓGICA
Dona Palmira: a bisavó. Senhora de 64, e nem parece. sentou-se comigo e conversamos sobre a cidade, os parentes, casamento, filhos, cigarras que explodem e moradores antigos do povoado.

Dona Aparecida: a vó. E também nem parece. Foi quem me recepcionou, oferecendo estadia e comida maravilhosas, uma pessoa dedicada, preocupada e prestativa.

Jocasta, Danila e Rafaela: algumas das filhas de D. Aparecida. Jô é alegre e canta lindamente. Mostrou-me as fotos de seu casamento, há pouco mais de um ano e pareceu-me que fugiria com o circo se tivesse possibilidade. Danila é tímida e doce. Como a grande maioria, também é contra a criação de uma ponte sobre o rio que dá acesso ao povoado, o que facilitaria a entrada de pessoas e poderia trazer insegurança à população. Rafaela apareceu por último, vinda de Vitória da Conquista, mas falo desta mais para frente.

Ruth e Catarina: as pequenas filhas de Danila. A primeira com seis anos e a segunda com seis meses, crianças simples e sorridentes.

       

2 comentários:

Expinho disse...

A menina Ana fez um trabalho belíssimo, provando que a sensibilidade e a vontade de fazer algo bem feito é maior até mesmo que as significações anteriores, as referências ou o aprendizado acadêmico.

Oxalá que essa menina consiga trilhar esse caminho ou fazer qquer coisa em sua vida como a desenvoltura que mostrou em posse desta "Sony danada"

Angela disse...

Belíssimas fotos.Mostram o primordial, o que vale, a essência.
Que belo!