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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dourados, MG, 19 de outubro de 2009

Não deu.
Hoje saí de Guanambi ao meio-dia, ansiosa que estava à espera do ônibus. Como da outra vez, escolhi um lugar a partir do acesso à região, e meu dedo indicador no mapa foi parar em Dourados. Lá fui eu falar com o motorista para parar na BR, lá fui eu para o novo povoado escolhido.

“É ali”, disse a placa no canto do asfalto. E eu pensei: tão pequenina região? Mas desci.

“Boa tarde, tudo bem? Eu tô vindo lá de Salvador e blábláblá blábláblá...”
“Ih, aqui vai ser difícil. Não tem lugar para ficar, não!” (Silêncio.) “Sobe lá, vê se acha alguém.”
Rua deserta, de chão batido. Lá vou eu, minha mochila e meu carrinho.
“Boa tarde...”
“Não sei, não. Tenta Jane, ali”.
Sol, muito sol. Carrinho empacando, sobe e desce de estrada.
“Boa tarde..”

Assim se repetiu a cena várias vezes. Umas duas crianças me viram, “eu gosto de palhaço, gosto demais! Talvez possa ficar na casa de vó.. Vóóóóóóó!!!”
“Não sei onde pode ficar.”
“Mas vó, ela precisa só de um cantinho, tem saco de dormir..”

A avó olhou para o menino séria, cortando-o com o olhar e a mão. Vi que ali também não seria bem vinda.

Sobe rua, desce rua, sol forte, carrinho cai derrubando tudo, pressão que desce, choro que vem.. Minha Nossa Senhora do Cadê a Minha Mãe, me ajuda!! O quê é que eu estou fazendo aqui?

“É melhor você ir pra Mamonas, lá que tem mais crianças. Aqui tem pouquinhas, a escola quase fecha.”
Pensei rápido: como? Eu estou no meio da BR, não para ônibus por aqui..
“E dá pra ir hoje?”
“Pega a van que traz as crianças da escola, às 5h.”

Um obrigado, um tchau de oi confuso. Puxa carrinho, agüenta o sol e volta tudo. Ai ai ai que calor, e agora?
A estradinha parecia não ter fim. Hoje foi o único e primeiro dia que desejei estar em casa, com pessoas conhecidas, desde que saí de Salvador.

Chorando, sentei na calçada em frente à BR, mochila no chão, carrinho parado. E choro, e choro. Não deu. Quis pegar ônibus direto para Porto Alegre, não vou ter mais coragem para seguir.

Dali a pouco lá vem as crianças. Seca o rosto coberto de sal, guria, elas não tem culpa de tuas escolhas. Sentaram comigo, conversamos. Caminhões de todas as cores no asfalto quente. Eu quero ser atriz e cantora, eu modelo, eu não quero ser nada. “Ele diz isso porque queria ser caminhoneiro, mas tombou um ali na frente e ele ficou com medo!” E passa tempo. Querem conhecer a vovó? Mostro a pequena boneca do Mundo Miúdo. É bonita, é engraçada. Tchau, se der volta aqui para apresentar para gente. Se desse apresentaria nesse meio tempo, mas já vem a van, já já. Tchau meninada. E obrigado pela companhia!

Só me resta seguir em frente.

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