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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Belo Horizonte, MG, 28 de outubro de 2009

À ESPERA DA ABERTURA DO MUSEU DO GIRAMUNDO

Hoje a saudade está doendo, como ferida aberta em dobra de dedo.
Hoje o dia todo está assim, cinza. Nublado, de cimento seco e calçada quente.
Hoje parece que nada agrada esse meu coração torpe, batidas atropeladas no peito branco.
Hoje tenho-me triste e sem destino nas ruas, e cansada, e cansada.
Ontem saiu um resultado, o vi e meu nome não estava. Nem o da palhaça. Nem o das trocas.
Hoje desanimei, porque tudo é na raça e na fé, e sem verba, de difícil caminhar.
Fiz as minhas contas, procurei praças, soluções baratas. Hoje há fumaça embaçando meus olhos, e tristezas salgadas de solidão.
E se me tenho na porta dos sonhos realizados à espera de que se abram, é porque há quase um sentido em meu peito arredio.
(Tento arrancar sorrisos de minha face morna).

SENTIMENTO PASSADO COMO NOITE QUENTE
ou
OS OLHARES BRILHANTES DE QUEM PARECE MORTO

Saí do Giramundo assim, com berros presos à garganta. Saí com um alívio quase doentio e belo em viver, em poder fazer tanto com meus dedos jovens.

Tudo lá no Museu do reconhecido Grupo Giramundo de teatro de bonecos é matéria viva: revigora. Tudo lá é assim, passível de beleza. Dos transfigurados aos mais reais, dos narigudos aos pequeninos – todos os bonecos guardam e carregam vida nos olhos. E o tempo dedicado a cada peça de arte aparece nos traços finos que definem, sem data, os anos de cada ser.

Dizer que eu previa tal sensação é fala fácil. Mas não imaginava ser tanta a magia, o respeito que senti ao presenciar tanto suor, força e criatividade reunidos em criaturas das mais variados materiais, tipos, técnicas e estruturas. Um mundo que gira em encantos e delicadeza.

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