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sábado, 14 de novembro de 2009

São Paulo, SP, 06 de novembro de 2009

Em uma estação de madeiras e pessoas a esperar o exato, acenei para cima: tio e tia, aqui estou. Com um sorriso vi que tia estava bem, apesar das dores constantes de cabeça e noites quase não dormidas, e que tio estava parecido-quase-igual com outro tio, um quase-pai. Perdemos-nos em seguida, nos achamos logo depois. E foi um bom reencontro, pessoas conhecidas após quase um mês de rostos sempre novos.

Fomos para a casa deles, e eu, aqui, sinto-me no extremo oposto exato dos locais por onde ando passado: tudo é grande, e há luxo, e estar ao lado não significa necessariamente estar com. Talvez muito pelo contrário por vezes. Mas haverá tempo para falar disto, o tempo me tem nas mãos nessa jornada.
Fomos, de carro, até a casa deles. As nuvens deixam buracos no céu, zonas de escape. Eu sou só olhos, assustada, observando o quê não tem fim.

À tardinha tia convidou para ir com ela a uma aula de Biodança. Vou quase todas as quintas, tem interesse em ir também? Disse que sim. E pegamos metrô junto a todos os tipos de gente, dos engravatados aos bêbados. Japoneses idosos, bebês de colo.

Lá chegando, tia, de nome Angela (ainda não a apresentei?) contou para as demais minha história: de onde vinha, para onde ia, por onde e como vou. E qual não foi minha reação ao ver os rostos se transformando, respingos de espanto, mas sozinha, com malas e tudo? É, queria fazer e fiz. E algumas com palavras repensaram sua vida, e achei estranho sentir-me como uma pedrinha jogada ao rio, rodando e rodando a água que tocou, círculos enormes. Contou-me tia Angela de um senhor que, ao ouvir sobre minha jornada, parou, pensou em silêncio um tempo e em seguida decidiu: “vou entrar em uma ONG!” Fiquei confusa e feliz, que tipo de reação é a que causo, e será que há diferença de pensamento entre quem me vê de povoados distantes e os de cidades assim, grandes lugares que chegam quase aos céus com suas colunas de cimento?

Para uns uma aventureira, para outros o para dentro, o espelho, o quê faço, eu ouvinte, com minha vida?
A aula transcorreu como experiência sensível, gotinhas de felicidade regadas por música suave. Transcorreu leve e contente como Dona Maria em seu fusca vermelho. Tudo que há de preocupação, se havia, se escapuliu pelas janelas de vidro. Mas como nesses dias eu sou só o presente e o querer, foi uma extensão de vida de interior.

 Foi emoção de rever, foi abraço de querer bem. E fomos embora sob os pés de outros, de volta ao metrô. Felicidade não buscada, mas sentida. Ou buscada, por isso sentida? Nem sei ao certo..

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