terça-feira, 24 de novembro de 2009
Paranaguá, PR, 14 de novembro de 2009
As coisas acontecem em uma velocidade tal que nem consigo relatá-las.
Hoje pela manhã acordei e fui tomar café. Como era uma mesa grande para todos, fui conhecer Cláudio, um homem branco, pouco gordo, de olhar baixo e timidez aparente com seus trinta e poucos ou quarenta anos. Trabalha com pintura de navios, e está aqui também de passagem. Conversamos de previsões do tempo a papo de mães, e quando desci para perguntar se a voltagem aqui é 110V ou 220V, veio a pergunta: “quer conhecer o iate?” Fui, sempre quero conhecer lugares. E fomos caminhando à beira mar.
Chegando lá barcos requintados, e conversando falou de Cotinga, uma ilha ali pertinho. Olhei no meu mapa, mas não estava. Falou com o responsável de lá que já perguntou quer conhecer? Fulano, leva ela lá. Eu falei espera.. agora? Ele disse não quer? Mas quanto é? Não, é de graça.
É de graça? – pensei cá com minha maleta.
Cláudio depois contou que é assim, que a comissão ali é alta e fazem de tudo para agradar, conversando e conhecendo não é difícil.
Daria tempo de ir e voltar, ainda arrumar as coisas para sair do albergue, fui. Eu e o rapaz que guiava, só. Cláudio emprestou-me o repelente para as mutucas danadas e ficou arrumando o barco que pintava.
Lindas paisagens, com barcos cheios de turistas aos lados.
Chagamos lá e perguntei onde fica o povoado? É ali, pode ir que eu espero.
Caminhando entre embarcações antigas, estradinha de chão ao lado do mar tranquilo com barquinhos de pesca a bailar para os lados, veio-me, como já havia ocorrido, a pergunta crucial: Minha Nossa Senhora do Destino Incerto, como vim parar aqui, lugar tão lindo, tão rápido e tão ao acaso?
Casinhas à beira do mar, bom dia, contei um pouco de minha história e se havia interesse, sondei. Aqui tem poucas crianças, duas ou três, o ideal seria você ir ali, depois do morro, tem uma tribo de índios, lá tem muitas crianças, tem a escola. Pelo mar vai também, é mais fácil chegar.
Agradeci e voltei, e na beira do mar com a embarcação parada conversei com um senhor de lá, o quê acha? Poderia falar com a professora, ela vem segunda, hoje é sábado. Falei com o rapaz que me trouxe, a gente trás, te deixa lá sem problemas, é só pedir autorização a Cristian, é tranquilo.
Por fora tudo certo para ir e ver como é, tentar. Por dentro de mim é que não estava.
Quando aparecem programas de TV de tribos indígenas, de visitantes brancos mostrando a vida de lá e se mostrando lá, sempre me pergunto se é benéfico tal aproximação. Se não é melhor deixar assim, um povo tão perseguido com seus costumes e rotinas, para que as próximas gerações não percam o que lhes é mais belo culturalmente, o que torna de cada região a sua, de cada povo e costume os seus.
Ao mesmo tempo, isola-los, se é possível ainda haver o isolamento total por aqui, não é também uma forma de extingui-los? Mostrar sua cultura não é valoriza-los?
Não sei, voltei para o Iate Clube cheia de interrogações. Falei com Cristian, que me autorizou a ir segunda feira, mesmo horário da professora. Agradeci a Cláudio, três beijinhos, senti que, se homem eu fosse, não teria conseguido nem metade do que consegui. Mas como foi tudo espontâneo, saí de leve e voltei para o albergue, onde estou agora a fugir do calor.
Arrumo minhas roupas e depois parto para Ipanema. E, no banho quente, sinto junto ao morno um filete de água gelada caindo em minhas costas desnudas. Serei o filete gelado na população quente?
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