terça-feira, 24 de novembro de 2009
Curitiba a São João da Graciosa, PR, 12 de novembro de 2009
Bom dia! Sejam bem vindos! Como vocês estão na cl_s_e ec_nôm_ca.. Ei, som, s__! – o senhor desistiu do microfone que falhava. Aí prosseguiu em voz alta: então, aqui não teremos guia turístico, sou eu em três vagões, então qualquer coisa me procurem, estou à disposição.
Começou a andar, o trem. Sim, novamente estou em um trem, tão bem dito o trajeto que espremi minhas moedas para terem filhas com rostos de José Maria da Silva Paranhos e Manuel Deodoro da Fonseca. E paguei um pouco a mais para chegar em meu destino pelos trilhos, a beira de precipícios. Belas paisagens de verde com tinta guache branca a cobrir de neblina os picos dos montes!
Entretanto, o que mais me chamou a atenção no trem foi o envolvimento das pessoas lá, dentro do vagão, ao compartilharmos sentimentos parecidos. Havia grupos definidos, e estes ficaram onde estavam, aparentemente nenhuma modificação. Mas os grupos menores e eu, grupo dos sozinhos, estes se agruparam, ajudando-se nas fotos, nos olhos arregalados a se empilhar nas janelas de vidro e nos gritos divertidos pela negritude dos túneis. E era sincero o riso conjunto. Trajeto longo de gostosuras.
Chegando, cidade de Morretes. E imediatamente a procura pela rodoviária, moça, onde fica? Muitos turistas. Muitos gringos. O ônibus sai às 13h 30min, meia hora aproximadamente até lá, o único do dia. Fui. O povoado: São João da Graciosa. Gracioso local, sem dúvidas. Mas região turística, há aqui uma rua só de restaurantes e hotéis, é tudo o que há. E a menina atendente do ‘Siri Cascudo’ puxou assunto, pesado isso aí, hein?! Pois é!
Aqui não houve recepção porque sempre se vêem rostos como o meu. E conversei com a menina, 15 anos, há quatro meses trabalho aqui. Deu-me dicas, deixei as coisas lá e tentei achar um local para ficar. Como há muitas pousadas e hotéis, ninguém ofereceu hospedagem em suas casas. E os preços como ou mais caros que os de Holambra: oitenta reais para uma noite. Não dá. Às 19h tem ônibus para Antonina, para Morretes não há mais hoje, vou para Antonina, então. É turístico também, mas maior, talvez haja mais opções.
Peso da noite mal dormida até Curitiba, de aqui não ter conseguido, sentada busquei soluções. Mas é difícil acha-las vendo assim, do e no interior. Nada de praças. A prefeitura não é aqui. Nem crianças. E há talas em meus olhos. Resta partir.
Ah, tem Seu Ely e Dona Rosa – disse Fernanda, a garota do ‘Siri Cascudo’, duas horas depois. Vai lá, eles tem um camping, explica. Fui, expliquei. Costumam cobrar 25 para acampar, mais 15 para emprestar a barraca. Mas me fizeram tudo por 20. Agradeci. Eu armando a barraca, veio Seu Ely com uma chave: fica na casinha, hoje a noite chove, melhor assim. Mesmo preço. Certo, desarmei e fui levar as malas.
Aqui tem uma cachoeira logo ao lado, e optei por tomar banho para me curar do suor do sono e desânimo acumulados de a pouco. Não há ninguém mais no camping, Seu Ely, a esposa D. Rosa, filho e eu. E os pássaros que ali em frente mergulham na água transparente a fazer, de peixes, caça. E os pássaros.
Agora tenho-me no quarto, e é o som de minha caixinha acoplada ao mp3 quem me livra do silêncio absoluto, integrado ao sussurrar contínuo das águas que segue ao longe como apelação de padres. As paredes aqui tem um verde quase marrom, há dois quartos e duas camas: uma de casal em um e outra de solteiro com colchões em cima do outro. Um fogão, divisórias internas do casebre de madeira clara com gemas de ovo pretas no centro, madeira de caixote. Cortinas de um tecido que une algodão a sintético, flores duvidosas de um roxo assustado. E tomadas. E chão de barro batido, tão batido que quebrou em alguns pontos. Pregos apontando para o alto. Bichinhos desenhando de sombra a lâmpada quente. Nenhuma porta, só a que se usa para o chegar e o partir. E há ainda uma rã que se escondeu debaixo da cama de casal, me fará companhia essa noite.
Arrumo meu material, aproveito as tomadas para carregar as pilhas que suspiram de fome. Como o pão que comprei na padaria e aproveito as geléias dos potes plásticos do hotel mais caro que fiquei: achei mesmo que seriam úteis, mais cedo ou mais tarde.
Vou dormir, saciar minha fome de sonhos
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