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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Florianópolis, SC, de 30 de novembro a 05 de dezembro de 2009

A PROCURA, A ESPERA, O DINHEIRO

Pensei preciso de dinheiro. Pensei vou trabalhar mais. Pensei onde? Praças? Não, as pessoas durante a semana aqui vão a praias, não a praças. Pensei ‘Re-bolando..’ na praia? Seria interessante. Lembrei da areia fina, do aparelho de som, das malas. Pensei, não! Pensei ‘Mundo Miúdo’ na praia? Lembrei da areia, da caixinha de luz que opero no pé, dedão todo cheio de grãos, vai estragar o que ainda resta. Pensei em outros lugares. Pensei em escolas. Bingo, escolas! Um ou dois reais por aluno/a ou contribuição espontânea, consigo grana para terminar a jornada. Perguntei, a Paula também ofereceu ajuda. Alguns nomes, lugares, fico em Floripa para ir atrás. Posso Paula? Posso Alê? Claro, fica.

E fui tentar, maleta em punho, protetor solar no rosto e tattoo, me encaro no espelho do banheiro antes de sair e repito, olhando nos olhos: tudo bem se não der certo, tudo bem se disserem não. E fui, sapato colorido já furou, vou em frente.

Todas as escolas que passei disseram já ter programação para o Natal, ai, daqui a pouco já é Natal. E assim, para essa semana, muito em cima, não dá, tenta lá, tenta lá. Fui tentando, ligando, crédito de celular vai como água, não dá, fica para a próxima.


A semana toda assim. Deu para arrumar a caixinha, outras possibilidades de luz sem gasto e sem perder a qualidade. Deu para pôr em dia os escritos, passar a limpo, enviar os desenhos das crianças de Barra do Sul, mandar as fotos. Deu para ler Bachelard, há tempos querendo eu estava, achado na estante de livros da Paula entre títulos sedutores. Deu para arrumar o braço do boneco, algo que só poderia ser feito com calma, aqui foi o lugar ideal. Deu para tirar fotos e fazer videozinhos da vovó Gertrudes no canal da Fortaleza da Barra da Lagoa e na luz da vela, no dia em que reinou o escuro (e os ventos levaram a luz que havia no interior das lâmpadas e das geladeiras). Deu para fazer a receita da sobremesa que aprendi com a tia Ângela, elogiada por todos, e para aprender mais receitas temperadas e deliciosas da Paula e do Alê, casal tão querido e bonito. Deu para ir na praia com eles, uma vez só, mas deu. É, e deu para me debater tentando obter boas idéias para conseguir dinheiro, tentar outras alternativas, se é meu trabalho devia ter mais opções, afinal vivo ou não disto?


Apresentei o ‘Mundo Miúdo’ em bares. Consegui pouco, passavam, olhavam a caixa, mas não perguntavam o quê era, e nas mesas diziam “não” sem nem ouvir. Poucos trocados tenho, uns 50 reais para terminar, descontando a grana que quero deixar aqui na casa.
Pergunto-me, deitada no colchão azul, se é possível viver disto, viajando assim de mochila e me sustentando. Se não houvesse o dinheiro inicial que juntei acho que não. Mas qual é o jeito? Sempre há uma maneira quando se quer, aqui, qual será?

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