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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

APRESENTAÇÕES EM FLORIPA, 29 de novembro e 6 de dezembro de 2009

Em Florianópolis há uma lei. Várias. Natural.
Em Florianópolis há uma lei que proíbe. Várias. Natural.
Em Florianópolis há uma lei que proíbe artistas de rua de trabalhar... Cuma??

Pois é, há. Não se pode apresentar em praças e parques públicos, nem em sinaleiras, o que fez com que vários artistas argentinos e daqui fossem exercer sua profissão em outras cidades, deixando de embelezar e ‘articular’ – uma leve brincadeira gramatical minha que deveria levar a letra ‘e’ ao invés da ‘i’ – a capital das belas praias. Decisão tomada. Só nos resta denunciar, achar um absurdo e apresentar nas praças, tentando levantar discussão.
No dia 30 de novembro, tendo chegado dois dias antes do início do Encontro por erro de cálculo, fomos – Paula, Alê e eu – em uma feirinha de arte aberta, aqui na Praça da Lagoa. Estava levemente movimentada. Céu-quase-chuva, gente que vai e vem, está um bom dia para apresentar. E havia outro grupo, vocês vão apresentar agora? Sim. Então eu espero e apresento depois.
Esperei e, depois, apresentei.
Apresentação razoável, mais para mais do que para menos. Poderia ser melhor, mas foi o que foi. Um bom chapéu, crianças querendo fotos, guardo as coisas e vamos, rumo a uma comida deliciosa feita pela namorada do irmão da minha prima.

Ops. Ele é meu primo. Rumo a uma comida deliciosa feita pela namorada de meu primo!

No último dia 6 resolvi repetir a dose. Disse lá é bom, estou precisando do dinheiro do chapéu, vai ser legal. Fui para a feirinha.

Havia sol, havia gente, havia de ser cedo para que eu não perdesse o espetáculo das 18 horas, sendo hoje o último dia do Encontro. Havia índios. Dançando. Penas, CDs a venda, damos um intervalo e aí você apresenta. Quis aproveitar a sombra, única da praça, ao lado de onde apresentavam os índios. E aí arrumei tudo em absoluto silêncio e sem puxar foco, para que não deixassem – o público – de assistir a eles e suas belas canções. Um erro. Mais tarde vi, um grande erro.
Não me comunicando com o público em um primeiro momento, não consegui mais diálogo. Pulei etapas, aquelas que aprendi com o mestre Chacovachi: Pré-Convocatória, Convocatória, Farsa do Começo, Números.. Pulei etapas que não se pulam, senão não existiriam. E aí foi uma sucessão de fracassos sem domínio, um conjunto de ações tentando conseguir, tentando alcançar a energia, mas tentando sozinha, o público a olhar sem emoção. Foi terrível, senti-me derrotada e com vergonha, e sei que não há nada pior para quem se apresenta na rua. Mas não sabia lidar, não sei.. Não sei ainda na prática como é isso que me disse Chaco no último encontro, de que “se pode ser qualquer coisa”. Não sei como é isso com músicas fechadas, com som, sozinha. Não sei como é isso com uma plaquinha de ‘fim’, deve ela vir de outra forma se não a que criei? Sim, hoje penso que sim. Mas no dia não consegui abandonar meu cronograma, e segui sem saber lidar com o imprevisto, com o improviso, com o incerto.

Havia um amigo comigo nesse dia, de Itajaí: o Charles. Ele filmou, esteve lá. E felizmente não me mentiu sobre a apresentação, falando frases preciosas escondidas em sua forma tímida de dizer, “os números são bons, mas os números são os números: só servem para se conseguir uma relação com o público. Se não tem relação..” E não tinha, e não tinha.


Seguimos para o Encontro, ônibus cheio, eu tropeçando em vergonhas. Perdemos a apresentação das 18 horas, maldita hora que optei por apresentar hoje, desculpe, você perdeu a apresentação deles por conta da minha, não, eu já vi outras vezes. Foi uma excelente companhia a dele! Encontramos Sebastião, encontramos outros e outras queridos e queridas.
Demorei e demoro ainda a perceber aonde mover, como melhorar. Mas haverá de existir o dia em que as palavras de Chaco virarão mais do que frases, sentidas serão.

2 comentários:

Caroline Holanda disse...

Fico encantada com tuas reflexões e angústias porque são muito parecidas com as minhas... como melhorar?... repenso os mestres... o que eles dizem demoram tanto a decantar... a vontade de conversar sobre o trabalho, ter outros olhares, sugestões, perguntas... a sinceridade de expor tudo isso enquanto o mundo faz questão de fingir que o começo não é um conjunto de tentativas e erros... e esse caminho não pode ser pulado (erros e erros)... temos que passar po ele!! acho isso uma demonstração de força. Forte. Força. é isso que vejo em vocÊ. (+ doçura, exigência e qualidade artística em permanete devir).
carol

Angela disse...

Belíssimo comentário de Carol.Também vejo muita beleza na forma de expressão de Genifer.E total sinceridade.Como é bom ler pessoas que falam com tanta pureza.É tão raro.