Chegando de Pericó quase noite e no frio, onde tem hotel barato, por favor? Ih, só no centro. Você pega essa rua e vai reto, passando o Banco do Brasil.
Juntei o que havia sobrado do dinheiro que levava comigo. Agora, eram 15 reais contando as moedas, merda, hotel mais barato costuma ser 25 reais no mínimo, estou ferrada. Minha cabeça pesava, assim como tudo. Pensei “passo no banco antes”, lembrei de ter tirado todo o dinheiro da última vez, mas lembrei de ter escrito a uns dias atrás um e-mail para minha amiga de infância, tem como emprestar uma grana só por garantia? Emprestada, chegando eu trabalho mais e te pago. Não quis pedir para mãe porque sabia da dificuldade, do quanto andava difícil. E havendo a amiga já oferecido, e sendo quem é, preferi.
Entrei no banco após um tempão caminhando, diabos que não arrumam essas calçadas, só buracos tem. Frio, ainda.
Entrando, catei o cartão na bagagem. Olhar longo para ele, olhar longo para a máquina. E se não tiver? – anoitecia já. O frio aumentava, eu já com todos os casacos, e se não tiver? O crédito do celular acabou há dias, e se?
A máquina pediu o cartão para engolir. Pus. Perguntou a senha, e se, pus. Digitei lentamente, como se adiando o momento. Se ela não tiver depositado vai aparecer só bolinhas de zeros. Frio. Saldo impresso? Não, em tela, mais barato. Lá vem, lá vem.. Ai, apareceu, respirei fundo, abri os olhos.
Do lado dos dois zeros um dois, soltei um sorriso largo, me olharam. “Uffaaa, obrigada!” – disse alto, me olharam mais. Eu nem dei bola, feliz estava com os números que me permitiam dormir em paz essa noite após dois dias de tentativas frustradas, tão cansada de corpo e mente eu estava.
Tirei uma parte, crédito no celular, pão, fui para o hotel. Procurei ainda pelo mais barato, vai lá vem cá. Um banho longo, chuva concentrada nas costas doídas, barulho acompanhando a chuva de fora. Umas linhas traçadas no caderno de folhas brancas. Operadora maravilhosa, permite-me falar quanto quiser por 25 centavos.
“Alô, mãe?! Como estão por aí?”
Maravilhoso ouvir a voz dela. Maravilhoso ouvir o “a-lô” do Dudu, irmão mais novo. Fechei os olhos para falar, queria ver. E vi, e vi.
Bela noite de sonhos, sonhei com irmão mais velho, o Guto. Todos os cobertores do armário em cima de mim.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
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