Em Florianópolis há uma lei que proíbe. Várias. Natural.
Em Florianópolis há uma lei que proíbe artistas de rua de trabalhar... Cuma??
Pois é, há. Não se pode apresentar em praças e parques públicos, nem em sinaleiras, o que fez com que vários artistas argentinos e daqui fossem exercer sua profissão em outras cidades, deixando de embelezar e ‘articular’ – uma leve brincadeira gramatical minha que deveria levar a letra ‘e’ ao invés da ‘i’ – a capital das belas praias. Decisão tomada. Só nos resta denunciar, achar um absurdo e apresentar nas praças, tentando levantar discussão.
No dia 30 de novembro, tendo chegado dois dias antes do início do Encontro por erro de cálculo, fomos – Paula, Alê e eu – em uma feirinha de arte aberta, aqui na Praça da Lagoa. Estava levemente movimentada. Céu-quase-chuva, gente que vai e vem, está um bom dia para apresentar. E havia outro grupo, vocês vão apresentar agora? Sim. Então eu espero e apresento depois.
Esperei e, depois, apresentei.
Apresentação razoável, mais para mais do que para menos. Poderia ser melhor, mas foi o que foi. Um bom chapéu, crianças querendo fotos, guardo as coisas e vamos, rumo a uma comida deliciosa feita pela namorada do irmão da minha prima.
Ops. Ele é meu primo. Rumo a uma comida deliciosa feita pela namorada de meu primo!
No último dia 6 resolvi repetir a dose. Disse lá é bom, estou precisando do dinheiro do chapéu, vai ser legal. Fui para a feirinha.
Havia sol, havia gente, havia de ser cedo para que eu não perdesse o espetáculo das 18 horas, sendo hoje o último dia do Encontro. Havia índios. Dançando. Penas, CDs a venda, damos um intervalo e aí você apresenta. Quis aproveitar a sombra, única da praça, ao lado de onde apresentavam os índios. E aí arrumei tudo em absoluto silêncio e sem puxar foco, para que não deixassem – o público – de assistir a eles e suas belas canções. Um erro. Mais tarde vi, um grande erro.
Não me comunicando com o público em um primeiro momento, não consegui mais diálogo. Pulei etapas, aquelas que aprendi com o mestre Chacovachi: Pré-Convocatória, Convocatória, Farsa do Começo, Números.. Pulei etapas que não se pulam, senão não existiriam. E aí foi uma sucessão de fracassos sem domínio, um conjunto de ações tentando conseguir, tentando alcançar a energia, mas tentando sozinha, o público a olhar sem emoção. Foi terrível, senti-me derrotada e com vergonha, e sei que não há nada pior para quem se apresenta na rua. Mas não sabia lidar, não sei.. Não sei ainda na prática como é isso que me disse Chaco no último encontro, de que “se pode ser qualquer coisa”. Não sei como é isso com músicas fechadas, com som, sozinha. Não sei como é isso com uma plaquinha de ‘fim’, deve ela vir de outra forma se não a que criei? Sim, hoje penso que sim. Mas no dia não consegui abandonar meu cronograma, e segui sem saber lidar com o imprevisto, com o improviso, com o incerto.
Havia um amigo comigo nesse dia, de Itajaí: o Charles. Ele filmou, esteve lá. E felizmente não me mentiu sobre a apresentação, falando frases preciosas escondidas em sua forma tímida de dizer, “os números são bons, mas os números são os números: só servem para se conseguir uma relação com o público. Se não tem relação..” E não tinha, e não tinha.
Seguimos para o Encontro, ônibus cheio, eu tropeçando em vergonhas. Perdemos a apresentação das 18 horas, maldita hora que optei por apresentar hoje, desculpe, você perdeu a apresentação deles por conta da minha, não, eu já vi outras vezes. Foi uma excelente companhia a dele! Encontramos Sebastião, encontramos outros e outras queridos e queridas.
Demorei e demoro ainda a perceber aonde mover, como melhorar. Mas haverá de existir o dia em que as palavras de Chaco virarão mais do que frases, sentidas serão.
2 comentários:
Fico encantada com tuas reflexões e angústias porque são muito parecidas com as minhas... como melhorar?... repenso os mestres... o que eles dizem demoram tanto a decantar... a vontade de conversar sobre o trabalho, ter outros olhares, sugestões, perguntas... a sinceridade de expor tudo isso enquanto o mundo faz questão de fingir que o começo não é um conjunto de tentativas e erros... e esse caminho não pode ser pulado (erros e erros)... temos que passar po ele!! acho isso uma demonstração de força. Forte. Força. é isso que vejo em vocÊ. (+ doçura, exigência e qualidade artística em permanete devir).
carol
Belíssimo comentário de Carol.Também vejo muita beleza na forma de expressão de Genifer.E total sinceridade.Como é bom ler pessoas que falam com tanta pureza.É tão raro.
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