Páginas

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Paranaguá, PR, 17 de novembro de 2009

Perdi a professora. Tenho-me agora sentada na calçada em frente ao Iate Clube, o relógio marca 8h 24min, trêmula e com as pernas bambas da velocidade com que vim para cá trazendo todo meu casco de tartaruga. Mas a professora já foi, falaram-me 8h 30min, foi antes.
Não que não tivesse acordado cedo. Noite mal dormida, toda hora acordava para ver se não havia passado a hora. Às 6h 15min levantei, fiz o que tinha que fazer.
No café conheci Seu Bide, um senhor que contrastava com minha ansiedade: pescador desde os 12 anos, agora carrega 67 de sabedoria. Não tinha como não ouvi-lo, conversar com aquela criatura encantadora. Falou-me que sempre trabalhara para ele, sem carteira assinada:
“Se eu quero essa xícara (mostrando a xícara) eu vou trabalhar até conseguir. Não vou pedir pra ninguém, nem ficar falando. Vou trabalhar, quieto, até ter ela”.
Seu Bide continua pescando porque é o que gosta de fazer. “É que nem você que se formou em uma coisa, vai trabalhar nisso a vida toda, porque gosta. Eu também. Nem ia à escola pra trabalhar”. Já conheceu o Brasil todo pescando.
Perdi o barco, mas não perdi meu tempo. Se perdi a professora, talvez impedimento de ir até Cotinga, o caminho será outro. Só mais um, só.


Dali fui à FUNAI, indicação do pessoal do Iate. Encontrei com Andréia, moça graciosa, e Onilson, dentre outras pessoas simpáticas. Falei e, em dois tempos, ligaram para o celular da professora. Ah, fácil assim? Ela adorou a idéia, mas precisava falar com o cacique, precisa da autorização dele, que ligasse pelas 11h 30min que ela perguntava.

O cacique de lá é Dionísio. Na Grécia Antiga, Dionísio era o deus do vinho e do teatro. Pensei: sorte?
Ligamos no horário marcado, ela não havia conseguido falar com ele, não passou aqui por conta da chuva. Falei da chuva? Pois é, chove, e muito. Aí esperei mais e mais, e nada. Então Andréia falou: por que não vai na aldeia de Piraquara? Lá tem mais gente e o cacique também é mais “tranquilo”. Ela ligou para lá, o cacique gostou da idéia, legal, que venha. Pensei, eba!

Oacesso que é um pouco difícil. Mas consegui carona com Onilson, ele vai para lá e posso ir junto, apresenta-me ao cacique. Estou na torcida!

Tenho-me um pouco cansada de todos os dias arrumar e desarrumar a mala, de, por esses tempos, na maioria das vezes não saber onde vou dormir no amanhã. Queria só um pouquinho de estabilidade fora de mim.

Um comentário:

Viliane Turatti disse...

está perto, está perto.....